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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Edgar Allan Poe




Edgar Allan Poe
1809-1849
Um dos maiores escritores, ensaístas e poetas de todos os tempos."O poeta maldito", da dor e da desesperança. Um artista genial. Com uma vida mais feliz talvez sua obra não teria sido tão tenebrosa, tão lúgubre mas surpreendentemente inteligente. Perdeu sua jovem esposa, que amava acima de tudo. Desesperado voltou-se à bebida e ao jogo. Morreu em 1849 Baltimore, Maryland, EUA.


Illustration by Harry Clarke for Edgar Allan Poe's 'Berenice', Tales of Mystery and Imagination, 1916.



The Cask of Amontillado by Harry Clarke - 1928



The Tell-Tale Heart by Harry Clarke - 1928



William Wilson' by Edgar Allan Poe. Illustration by Arthur Rackham (1867 - 1939).


Ligeia' by Edgar Allan Poe. Illustration by Arthur Rackham (1867 - 1939).



Murder in the Rue Morgue' by Edgar Allan Poe. Illustration by Arthur Rackham (1867 - 1939




The Masque of the Red Death by Edgar Allan Poe. Illustration by Arthur Rackham (1867 - 1939)



The Pit and the Pendulum' Illustration by Arthur Rackham (1867 - 1939).


O Corvo (tradução de Machado de Assis)

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!"
E o corvo disse: "Nunca mais."

"Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
Publicações:
    A Dream Within a Dream(1827)
    Dreams (1827)
    Tamerlane (1827)
    Al Aaraaf (1829)
    Alone(1830)
    To Helen(1831)
    Israfel(1831)
    The City in the Sea(1831)
    To One in Paradise(1834)
    The Conqueror Worm(1837)
    The Narrative of Arthur Gordon Pym(1838)
    Silence(1840)
    A Descent Into the Maelstrom(1841)
    Tell Tale Heart(1843)
    Lenore(1843)
    The Black Cat(1843)
    Dreamland(1844)
    The Purloined Letter (1844)
    The Divine Right of Kings(1845)
    The Raven(1845)
    The Philosophy Of Composition
    Ulalume(1847)
    Eureka(1848)
    Annabel Lee(1849)
    The Bells(1849)
    Eldorado(1849)
    Eulalie(1850)
    The Valley Of The Unrest
    Bridal Ballad
    The Sleeper
    The Coliseum
    Sonnet:To Zante
    To One In Paradise
    The Haunted Palace
    Romance
    FairyLand
    Song
    To The River-
    To The Lake.
    The Bells
    A Valentine
    An Enigma
    To My Mother
    For Annie
    The pit and the pendulum(1842)
    William Wilson(1839)
    Berenice (conto)
    Morella (conto)
    The Oblong Box /A Caixa Oblonga (conto)
    The Man Of The Crowd/O Homem da Multidão (conto)
    The Imp of The Preverse (conto)
    The Fall of The House Of Husher (conto)
    The Assignation (conto)
    The Oval Portrait (conto)
    The King Pest (conto)
    The Gold-Bug (conto)
    Ms.Found In a Bottle (conto)
    The Balloon Hoax (conto)
    Metzengerstein (conto)
    Ligeia (conto)
    The Mask Of The Red Death (conto)
    The Cask Of Amontillado (conto)
    "Thou Art The Man" (conto)
    The Spectacles (conto)
    The Murders In The Rue Morgue (conto)
    The Mistery Of Marie Roget (conto)
    The Premature Burial (conto)
    A Tale Of The Ragged Mountains (conto)
    The Domain Of Arnheim (conto)
    Landor's Cottage (conto)
    The Island Of The Fay (conto)
    The Colloquy Of Monos And Una (conto)
    The Conversation Of Eiros And Charmion (conto)
    Hop-Frog (conto)
    The Facts In The Case Of Mr.Valdemar (conto)

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